27º Congresso Brasileiro de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular Pediátrica

Dados do Trabalho


Título

Arritmias induzidas por deglutição - um caso raro de bloqueio atrioventricular avançado com pausas ventriculares

Introdução e/ou Fundamentos

Arritmias induzidas por deglutição são eventos raros e pouco descritos, sobretudo na população pediátrica. Desde o primeiro relato em 1926, menos de 50 casos foram descritos no mundo. O espectro varia de bradicardia a taquiarritmias, associadas ou não, a anormalidade subjacente no esôfago ou no sistema de condução cardíaco.

Relato do Caso

Paciente que, após arritmia em avaliação de puericultura, foi diagnosticado aos 7 anos com bloqueio atrioventricular (BAV) de 2° grau - Mobitz 1 associado a extrassístoles em Holter 24 horas. Aos 14 anos relatou sintomas inespecíficos durante deglutição (tontura e turvação visual). Holter: BAV de 2° grau 2:1 durante a vigília e BAV avançado com pausa de até 6,6 segundos (Figura 1) ao alimentar-se, com frequência cardíaca (FC) variando de 49 a 121 bpm. TILT test: resposta vasovagal tipo 3 (vasodepressora), comportamento exacerbado da FC com a ortostase passiva, sem influência da massagem do seio carotídeo sobre a FC e pressão arterial. Ecocardiograma normal. Teste ergométrico: resposta pressórica e cronotrópica fisiológicas, sem distúrbios de ritmo. Tomografia computadorizada de tórax sem alterações estruturais. No momento, em avaliação quanto a estudo eletrofisiológico com cardioneuroablação.

Figura 1

 

 

Conclusões

A bradicardia associada à deglutição apresenta uma relação neurológica complexa entre o ato de deglutir e o sistema de condução cardíaca, ocasionando diversas formas de bloqueios e arritmia sinusal. Especula-se que ocorra pelo fato que o esôfago e o sistema de condução cardíaco são ambos inervados pelo nervo vago, desta forma, a estimulação deste nervo pelo estiramento do esôfago distal pode desencadear a arritmia. Este mecanismo fisiopatológico ancora-se na constatação de que em alguns casos os episódios de arritmia são prevenidos pela atropina. A arritmia é tratada, basicamente, pelo tratamento da causa subjacente. Deve-se afastar hérnia hiatal, acalasia, neoplasia e espasmo esofágico. Em alguns casos os pacientes podem demandar implante de marca-passo para prevenir episódios de assistolia prolongada. Porém, a decisão terapêutica é difícil, uma vez que são eventos ocasionais e o tratamento não é isento de riscos. 
As arritmias induzidas pela deglutição são eventos esporádicos, entretanto, com potencial risco de gravidade. A conscientização do cardiologista permite o reconhecimento do diagnóstico, adequada investigação da causa é melhor condução terapêutica do paciente

Área

Relato de caso

Instituições

Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil

Autores

Roberta Leão Bassi, Lalleinny Franthiesca da Costa Alves, Camila Magalhães Silva, Lícia Campos Valadares, Fatima Derlene Araújo, Henrique De Assis Fonseca Tonelli