Dados do Trabalho

Título

Concomitância de insuficiência mitral e aórtica reumática grave em paciente com diagnóstico de Síndrome Inflamatória Multissistêmica: um relato de caso.

Introdução e/ou Fundamentos

A Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), associada à infecção pelo vírus SARS-CoV 2, causador da COVID-19 é definida pelo acometimento de, ao menos, dois órgãos e sistemas, tais como: cardiovascular, renal, respiratório, hematológico e neurológico. Quanto ao acometimento cardiovascular, apesar de ser diverso (miocardite, isquemia coronária, insuficiência cardíaca, pericardite, aneurismas coronarianos, hipotensão arterial), não há descrição na literatura que evidencie injúria valvular por SIMP-P.

Relato do Caso

Descrevemos o caso de um paciente masculino com história de inapetência e falta de apetite um mês antes da admissão, seguido de síndrome gripal. Foi admitido com quadro de confusão mental, dispnéia e edema. Evoluiu com choque misto: séptico e cardiogênico. Exames laboratoriais mostravam anemia, provas de atividade inflamatória aumentadas, alteração de enzimas hepáticas, coagulopatia, bioquímica renal alterada e sorologia para COVID-19 positiva para IgM e IgG. Ecocardiograma evidenciou insuficiência mitral e aórtica importantes, com características de lesão valvar reumática, com dilatação de câmaras esquerdas, hipertensão arterial pulmonar e função sistólica biventricular preservada. Foi indicado pulsoterapia com metilprednisolona 1g/dia por cinco dias e, após a confirmação do diagnóstico de COVID-19, foi realizada imunoglobulina intravenosa na dose de 2g/kg. Foi encaminhado para centro de referência em cardiologia pediátrica, inciado milrinona e indicado cirurgia cardíaca, sendo realizado plastia mitral e aórtica com bom resultado cirúrgico e evidência pós operatória de insuficiência residual aórtica mínima e mitral moderada.

Conclusões

O acometimento valvar, como observado neste caso, não é descrito na SIMP, tendo sido feito o diagnóstico de febre reumática pelas características das lesões valvares encontradas e pela alta prevalência da febre reumática em nosso meio. É pouco provável também que as alterações inflamatórias em outros sistemas sejam devidas a um surto agudo de febre reumática, especialmente em face da evidência de infecção recente de COVID-19. Este caso raro mostra a associação de duas doenças muito prevalentes em nosso meio atualmente e abre espaço para novas discussões.