27º Congresso Brasileiro de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular Pediátrica

Dados do Trabalho


Título

COVID-19: IMPACTO DA PANDEMIA EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA CARDÍACA PEDIÁTRICA NO SUL DO BRASIL

Introdução e/ou Fundamentos

A COVID-19 limitou recursos hospitalares, exigindo seleção dos pacientes com outras patologias que necessitam de tratamento, incluindo as crianças com cardiopatia. O objetivo deste estudo foi analisar o impacto da pandemia em uma unidade de terapia intensiva cardiológica pediátrica (UTIP) no sul do Brasil.

Métodos

Estudo observacional transversal retrospectivo. Os pacientes admitidos na UTIP entre 01/01/2020 e 31/12/2021 (período COVID-19) foram comparados aos internados entre 01/01/2018 e 31/12/2019 (período pré-COVID-19). Agrupados por tipo de tratamento: clínico, cirúrgico, cateterismo, estudo eletrofisiológico ou parto. Do grupo cirúrgico foram analisados os dados demográficos (sexo, idade, procedência da rede pública ou privada), tipo de cirurgia (cardíaca com circulação extracorpórea (CEC), sem CEC ou outras), escore de risco conforme o Risk Adjustment for Congenital Heart Surgery (RACHS-1) e desfechos (tempo de internação e mortalidade), com análise dos preditores de mortalidade.

Resultados e Conclusões

Durante a pandemia, observou-se uma queda de 33,5% nas internações (p<0,001), afetando todos os tipos de tratamento. O número de partos reduziu 46,9% (p 0,011); o de estudos eletrofisiológicos 41,9% (p 0,038); o de pacientes cirúrgicos 40% (p<0,001); o de pacientes clínicos 29% (p 0,003); e o de cateterismos 20,7% (p 0,005). As internações cirúrgicas foram as mais impactadas estatisticamente, sendo que ainda não houve retorno ao volume pré-pandemia. Observou-se mudança no perfil e gravidade, com aumento das cirurgias neonatais de 6,7% para 10,1%, diminuição das envolvendo crianças maiores de 74% para 65,6% (p 0,013) e diminuição das mais simples (RACHS-1 1) de 21,6% para 12,7% (p 0,008). Não houve diferença no tempo de internação. A mortalidade aumentou de 5% para 8,8% (p 0,015). Análises multivariadas identificaram cirurgia neonatal (p<0,001, RR 9,6) e RACHS-1 categoria 3 (p 0,006, RR 16) e categoria >4 (p<0,001, RR 75) como preditores de mortalidade, mas não o período da pandemia. A COVID-19 impactou negativamente nas internações, independente do tipo de tratamento recebido, prejudicando principalmente os pacientes cirúrgicos. Mesmo após ​​dois anos do início da pandemia, ainda não se retornou ao volume cirúrgico previsto. Houve mudança no perfil dos pacientes, priorizando-se neonatos e cirurgias com maiores escore de risco (RACHS-1 ≥3). Essas características foram associadas a maior mortalidade, o que provavelmente explica o aumento dos óbitos durante o período. 

Área

Terapia intensiva cardíaca pediátrica

Autores

Carlye Nicheli Cechinato, Estela Suzana Horowitz